segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Bichas pela Palestina


De todos os slogans cantados e apresentados em manifestações anti-Israel durante o mês passado (dezembro 2008), com certeza o "Bichas pela Palestina” [1] se classifica como o mais paradoxal. É o lema da organização Bichas que Debilitam o Terrorismo Israelense – QUIT [2] localizada na cidade de São Francisco, um grupo que defende a privação de investimentos do Estado Judeu. O grupo "QUIT" afirma que o sionismo é racismo, e regularmente demonstra em marchas do orgulho gay, organizados com organizações de extrema-direita muçulmano, e tendo apoiado com sucesso o International Gay and Lesbian Human Rights Commission para boicotar a Conferência Mundial de Orgulho 2006, por causa da localização deste evento naquele ano, em Jerusalém.
O que faz o “QUIT” ser uma organização paradoxal é que a sua afinidade com a Palestina não é recíproco. Pode haver bichas para a Palestina, mas a Palestina certamente não é para gays, seja no sentido habitáveis ou de empatia. Como todas as organizações políticas islâmicas, a Autoridade Palestina sistematicamente prende [na cadeia] as pessoas homossexuais. Sob o manto de extirpar os “colaboradores” de Israel, os oficiais da Autoridade Palestina extorquem, prendem e torturaram gays. Mas a opressão dos palestinos contra a homossexualidade não é meramente uma questão de política de Estado, é algo que está firmemente enraizado na sociedade palestina, onde o ódio a gays ultrapassa até mesmo a dos judeus. Em outubro passado, um homem gay palestino com um amante israelense Israel solicitou à alta corte de justiça israelense o pedido de asilo, alegando que sua família o ameaçou a matá-lo caso ele não se "reformasse". Ele é um dos poucos palestinos de sorte de ser capaz de desafiar sua situação.

E isso só somente na região relativamente afável da Cisjordânia. A Faixa de Gaza, que se estagnou sob o tacão das regras islamofacistas do Hamas desde 2007, é um lugar ainda mais perigoso para os gays, "uma minoria de pervertidos e mental e moralmente doentes", nas palavras de um líder do Hamas. Tal como no Irã, patrono do Hamas e o principal patrocinador do terrorismo internacional, mesmo a mera suspeita da homossexualidade acaba resultando em morte em Gaza, sendo lançados a partir do telhado de um edifício alto como sendo o método de escolha.

É destes fatos que sugerem a interpretação bizarra das "Bichas pela Palestina". Contrariamente ao que alguns ativistas gays poderiam fazer você acreditar, não há realmente que muitos assuntos políticos, onde a sexualidade de alguém deveria influenciar uma opinião. Para além das questões óbvias relacionadas com a igualdade cívica (reconhecimento de parcerias, aberto no serviço militar, etc), como a homossexualidade implica um ponto de vista particular sobre assuntos complicados como na Reforma da Segurança Social, na política de saúde, ou a guerra no Iraque?

A resposta, pelo menos para alguns deles do lado esquerdo do espectro, é uma retórica encontrada no início da Frente de Libertação Gay, - GLF [3] a principal organização de direitos dos homossexuais a surgir após os protestos de Stonewall. O “GLF” era, nas palavras do historiador Paul Berman, a “ala gay da aliança revolucionária", a qual em 1970 desafiou o consenso liberal e passou a ser conhecida como a "Nova Esquerda".

Os líderes da GLF, por exemplo, desempenhou um papel fundamental na criação da Brigada Venceremos, que expediu americanos utopistas radicais para colher cana-de-açúcar em Cuba como uma demonstração de solidariedade com o regime de Fidel Castro (Como a Autoridade Palestin, a Cuba comunista não exatamente devolveu a amabilidade aos seus simpatizantes; por décadas, internou homossexuais contaminados com o vírus HIV em prisões de campos de trabalho forçado). O GLF aliou-se com um novo conjunto de organizações radicais (como a organização assassina dos Panteras Negras), cujo papel na luta pela igualdade gay eram muito tênues. E o próprio nome do GLF foi adotada a partir da Frente de Libertação Nacional, o apelido dos comunistas vietnamitas.

Por que essa história importa agora? Embora você irá encontrar poucos conscienciosos marxistas na liderança de organizações gays de hoje, a maioria dos ativistas gays ainda ver o mundo com o mesmo tipo de complexo de "opressão" simbolizadas pelos primeiros radicais que conduziram a GLF. Eles acreditam que os gays são "oprimidos", e sustentam que qualquer outro grupo que reivindica o mesmo vitimismo deveria ganhar o apoio dos gays.

É por esta razão que cada organização gay importante era tão hesitante em falar sobre o apoio generalizado entre os negros americanos em banir o casamento gay na Califórnia, e porque a National Gay and Lesbian Task Force foi tão longe em encomendar um estudo falso que ostensivamente refutava a estatística perturbadora em si. Na estimativa do estabelecimento dos direitos dos homossexuais, os negros americanos, assim como os gays, são "oprimidos", e não há espaço para inimigos no lado “esquerdo”.

Mas os gays nunca vão chegar a lugar nenhum enquanto seu ponto de vista sobre o mundo é feito de maneira constritiva e contraprodutiva. Na verdade, se alguém quisesse interpretar uma “posição gay" sobre o conflito árabe-israelense - ou seja, analisar a questão apenas sob o prisma do bem-estar das pessoas homossexuais - a postura inevitável é nada menos do que a parcialidade a favor de Israel. Israel, apesar de tudo, é o único estado no Oriente Médio que legalmente consagra os direitos dos homossexuais. Os gays servem abertamente às forças armadas e ocupam cargos de alta patente nos negócios e na vida pública, e Tel Aviv é uma “meca” para os gays do mundo. Como clichê que possa parecer, Israel é um oásis de tolerância liberal em um remanso religioso reacionário, e se os gays querem ficar com os "oprimidos" daquela região, será com os palestinos que procuram uma solução pacífica, com a consolidação de dois Estados, não com assassinos do Hamas ou seus apoiadores em Teerã, que apóiam o mérito.
Nada disso quer dizer que os homossexuais estão errados em simpatizar com os injustiçados e genuinamente oprimidos, pelo contrário, é uma qualidade admirável. Mas, muitas vezes, os ideólogos com segundas intenções com agendas radicais pervertem esse instinto digno.

Uma coisa é manifestar preocupação com as condições humanitárias nos territórios palestinos. Mas, estar ao lado dos adeptos do fascismo religioso não é "progressista". É obsceno.

Fotografia tirada por "Fred", do blog "Gay and Right", na qual aponta os ativistas como idiotas úteis.
Notas
[1] O autor usa a expressão “Queers for Palestine”. (N. do T.).
[2] “Queers Undermining Israeli Terrorism – QUIT”, tradução: Bichas que Debilitam o Terrorismo Israelense - “Quit” significa “sair” em alusão de protesto contra a ocupações israelenses. (N. do T).
[3] GLF, sigla para Gay Liberation Front, ou Frente da Libertação Gay. (N. do T).

Referências:
INDEPENDENT GAY FORUM. Queers for Palestine? KIRCHICK, James: 28/01/2009. Disponível em: http://www.indegayforum.org/news/show/31697.html . Acesso em: 30/01/09.
GAYANDRIGHT. Useful Idiots March in Ottawa. Fred: 30/08/09, Ottawa, Canadá. Disponível em: http://gayandright.blogspot.com/2009/08/useful-idiots-march-in-ottawa.html. Acesso em: 27/09/09.

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