quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ICM "apresenta" confirmações de que Jesus teria curado homossexuais

Um interesse muito forte em procurar passagens nas Escrituras Sagradas que pudessem levar à confirmação da apreciação de Jesus Cristo sobre a homossexualidade tem se desenvolvido nas últimas décadas. Nesta semana, uma informação divulgada no site PINKNEWS, noticiou que a Igreja Comunitária Metropolitana - ICM fez uma campanha intitulada “Jesus discriminaria?”. Nesta campanha, é apresentado referencias da Bíblia Sagrada, como MT 8: 5-13 e AT 8: 26-40. O objetivo deste artigo não visa simplesmente respaldar ou refutar as afirmações da ICM, mas, fazer uma análise dentro do contexto assegurado pela doutrina católica. Analisemos primeiro o que diz a Bíblia e depois os argumentos da ICM.

Os versículos apresentados do livro de Mateus, conta a história de um soldado romano que pediu a Jesus que fosse até a casa dele, para curar seu escravo doente. E Jesus o curou. Entretanto, a interpretação católica usual que se tem desse fato é a seguinte: “atento ao pedido de um pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem privilegiada. A fronteira agora é a de fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus”.

No caso do livro Atos dos Apóstolos, refere-se à abordagem de Iniciação Cristã na Igreja antiga. Um anjo manda Filipe fazer uma viagem de Jerusalém para Gaza e ele foi. No caminho encontra-se com um eunuco etíope que estava peregrinando até Jerusalém, lendo o profeta Isaías, mas sem compreender. Filipe explica-lhe a passagem que estava lendo. Ao compreender, ele pede para ser batizado, o Espírito Santo arrebatou Filipe e o eunuco nunca mais o viu. Novamente, a interpretação que se tem deste trecho bíblico é de que: “a conversão de um eunuco etíope mostra que a fé cristã quebra todas as barreiras, tanto raciais (o etíope é negro), como nacionais (ele é estrangeiro), tanto sociais (tratava-se de escravo) como religiosas (o judaísmo não permitia que uma pessoa mutilada pertencesse à comunidade). Além disso, o episódio mostra como se realizava uma iniciação na Igreja primitiva: encontro, anúncio, catequese e batismo. De um lado, as pessoas que buscam algo ou alguém que lhes dê sentido para a vida; de outro o missionário obedece ao Espírito, que indica o momento e o lugar oportuno para esclarecer quem as pessoas buscam e para fazer o grande anuncio. Não basta ler e estudar a Sagrada Escritura. É necessário que alguém abra a perspectiva da fé para mostrar que a Bíblia, espelho da experiência humana, é o anuncio de Jesus. O rito do batismo é o sinal que exprime a aceitação de que Jesus é o novo sentido para a vida do batizado”.

Entretanto, segundo a notícia, a ICM afirma que os versículos em Mateus 8:5-13 e Lucas 7:1-10 referem-se a um “centurião que é gay, dizendo que a palavra usada para descrever o seu servo doente - pais - é uma antiga palavra grega para parceiros do mesmo sexo. Na história, Jesus curou o homem, que, segundo a ICM, mostra que ele não discriminam os homossexuais.” Já no caso dos versículos citados em Atos 8: 26-40, a ICM alega que “é óbvio que o eunuco é gay”. Segundo o site PINKNEWS, “Um comunicado no site da igreja [comunitária metropolitana] diz: "Ao longo da história do cristianismo, muitas instituições religiosas têm utilizado a sua interpretação da Bíblia para justificar a discriminação contra mulheres, minorias étnicas e pessoas com uma orientação sexual diferente e / ou questões de identidade”.

Minha avaliação é de que, é ridícula a idéia de que os romanos tivessem escravos apenas para sua vontade sexual. Poder-se-ia alegar até que o romano procurou Jesus porque se incomodava com a idéia de que estava prestes a perder uma propriedade que lhe pertencia (o escravo), por conta de uma enfermidade. No entanto, o fato de o romano ter procurado Jesus para salvá-lo, pode indicar, certamente, que o romano tinha sim um mínimo de respeito pelo seu escravo. Porem, a alegação de que este escravo deve ter sido seu parceiro afetivo, é demasiadamente vago. No caso do eunuco, a situação é mais complexa uma vez que, ser eunuco não significa necessariamente que a pessoa referida na Bíblia era de fato homossexual. Mesmo nos dias de hoje, a prática de remover os testículos ou o corpo do pênis não é um costume de quem é homossexual. Pelo contrário, basta olhar ao redor e notar que as pessoas querem manter seus órgãos sexuais o mais intacto possível, evidentemente, para utilizá-los.

Existem pelo menos três situações distintas para o eunuco, sendo a remoção (ou ausência) de sua genitália decorrente de necessidade médica demandante da remoção dos órgãos, ou porque a pessoa nasceu com essa condição (hermafrodita), ou ainda, tenha deliberadamente removido seu órgão sexual (transexual). Mesmo considerando a suspeita de se tratar de um transexual, novamente fica difícil, senão impossível, estimar que o eunuco referido na Bíblia se tratasse de um transexual. Isto será mais investigado a seguir.

No entanto, há ainda uma outra passagem nas Escrituras Sagradas não citadas na notícia, e se referem aos eunucos. Segundo em Mateus 19-12, Jesus afirma que “De fato há homens castrados, porque nasceram assim; outros ainda, se castraram por causa do Reino do Céu. Quem puder entender, entenda”. Mesmo que o texto seja interpretado literalmente, indicaria apenas de que Jesus conhecia o fato de que há pessoas eunucas que nascera nessa condição (hermafroditismo) e há quem escolha remover sua genitália para se concentrar em servir ao Senhor. Esta passagem é esclarecedora, porque reflete sobre à problemática da questão anterior. Não existem transexuais “a serviço de Deus”, aniquilando portanto, essa possibilidade de interpretação na história do eunuco batizado pelo Filipe.

Em suma, minhas considerações finais é de que não parece haver nenhuma confirmação da Bíblia sobre os trechos citados pela notícia sobre as declarações da Igreja Comunitária Metropolitana. Há sim trechos que permitem a abertura de muitas interpretações, mas a confrontação com outras passagens da Bíblica parece ajudar a remover algumas dúvidas.

Referências:

PINKNEWS. Gay-friendly church asks 'Would Jesus discriminate?' Publicado em: 10/09/2009. Disponível em: http://www.pinknews.co.uk/news/articles/2005-14012.html. Acesso em: 11/09/2009.

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