sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A odisséia do evento "Mr. Gay Habana".

Por Mario José Delgado González, ativista de direitos humanos da Fundación LGBT "Reinaldo Arenas”.


CUBA - Eles pensavam que a fome, a sede e o frio iam me dominar. Que com os ratos nas celas e as condições sub-humanas do presídio iam poder me derrotar. O tiro lhes saiu pela culatra!

Não vou negar que tive medo se batessem em mim e no Belkis antes de ser levado à prisão de Villa Marista, como tampouco negarei o sentimento de ódio e a impotência de ser excluído da sociedade naqueles dias, porque esses sentimentos são inerentes ao ser humano.

E embora eu tenha contraído uma forte gripe, que não é nem vírus influenza H1N1, ou a tuberculose, mas pode ter passado, trás o imprevisível que se converte ser um condenado nas prisões cubanas, por favor, nunca saem com a pandemia que nestes momentos assola o mundo.

Nas escuras, impregnadas com a umidade, poeira, sujeira e pichações, Belkis e eu estávamos sozinhos na mesma cela, um apoiando ao outro, depois das insultantes provocações dos policiais e carcereiros a serviço dos preconceituosos Castros e da suposta defensora dos direitos sexuais da comunidade LGBT cubana, Mariela Castro Espín.

A qualidade da comida era de fazer chorar e gritar. Não queríamos comer os alimentos que nos era oferecido, mas tivemos que comer, apesar de ser um suicídio. A comida era repugnante.

Não entendo como Belkis permaneceu em um presídio de homens sendo "ela" mulher, sem ocorrer conflitos, quando éramos levados algemados pelos oficiais para jantar. Apenas alguns dos que eram realmente bonitos, dos verdadeiros delinqüentes e problemáticos da sociedade, nos perguntaram o porquê permanecíamos lá, quando os oficiais que nos deram custódia se afastavam de nós, respondíamos: somos ativistas pelos direitos humanos da comunidade LGBT cubana.

Pensei que a reação seria nefasta, mas foi completamente o oposto. Vimos o apoio dos bissexuais, dos gays e dos héteros pelo valor de nos opormos às mentiras do governo cubano.

Depois do terceiro dia, Belkis e eu fomos levados a celas diferentes, sem saber o que se passava ao outro, ou se estávamos no mesmo presídio.

Foi este o momento decisivo que decidiria o nosso destino, para o qual ambos tínhamos acordado, que se por qualquer motivo nos separassem, faríamos uma greve de fome, fosse onde estivéssemos.

Cada dia com 4 exaustivos interrogatórios de uma hora cada, nos era exigido que abandonássemos o evento "Mr. Gay Habana", quando ainda estava por se realizar.

Os interrogatórios foram feitos separadamente. No entanto, um oficial da Agência de Segurança do Estado, cujo nome nunca me revelou, atreveu-se a dizer que com a nossa atitude prejudicaríamos o trabalho de Mariela Castro e do Centro Nacional de Educação Sexual – Cenesex, a favor da erradicação da “homofobia” em Cuba, e que o evento “Mr. Gay Habana” não podia ser feito porque ameaçava os interesses [comunistas] do Estado e do Governo.

Eu tive um ataque de risadas e respondi que a única coisa que ele tinha a dizer é o que Belkis e eu estávamos vivos e, com as noticias publicadas, em segurança via internet, é o que afeta a reputação da Mariela, porque o evento “Mr. Gay Habana” não é uma atividade política, mas com finalidade cultural.

Entre o confinamento, a fome, os interrogatórios sem sentido e a lentidão dos dias pareciam meses de duração. Eu estava perdido no tempo.

Passar dias sem ver o sol e a lua, e todos os relógios de sala que observava quando era conduzido aos interrogatórios marcavam uma hora diferente. Estava perdido no tempo.

Acho que a única razão pela qual nos colocaram em liberdade e nos conduziram em uma patrulha policial até a Delegacia Policial da Zona 8 de Alamar, onde definitivamente fui libertado, é o temor que eles tem de que se arme uma agitação internacional, na qual poderia intervir a Anistia Internacional e outras organizações de direitos humanos que questionam o verdadeiro trabalho de Mariela, além do imediato declínio físico por causa da nossa greve de fome

Isto é o que os assusta por conduzirem uma política falsa e “homofóbica”, as mentiras, abusos e violações dos direitos humanos acabar voltando contra eles mesmos.

Hoje Belkis e eu estamos passando mal de saúde. Entre as surpresas, o medo de voltar à cadeia, a fobia da polícia e da Agência de Segurança de Estado Cubano, a falta de apetite e insônia, são seqüelas que atormentarão as nossas vidas por um bom tempo.

E enquanto eu conseguir as forças para apoiar o Belkis, sem demonstrar covardia, se eu mostro que estou a reverter os riscos profissionais que estou correndo, isso tudo afetará o nosso futuro.

Observação: Belkis Belin não quis colocar sua foto no Blog por ter medo de represálias por parte da Agência de Segurança do Estado.

Referências:

MISCELANEASDECUBA. La Odisea pre Mr Gay Habana. DELGADO, Mario Jose Gonzalez: 23/09/09. Disponível em: <http://www.miscelaneasdecuba.net/web/article.asp?artID=23054>. Acesso em: 24/09/09.

Nenhum comentário:

Postar um comentário