Antes de ler aqui,
recomendo que primeiro leiam este artigo no blog do Luis Nassif, senão você não
vai entender o que estou criticando aqui, menos ainda a raiva que sinto quando
leio uma merda dessas:
“Principalmente o Presidente Ronald
Reagen - quando em seu primeiro mandato a doença ficou conhecida - ignorou o
perigo de uma epidemia de AIDS.
Pelo contrário, a doença era
perfeita para sua visão de mundo homofóbica e foi utilizada por ele para
atender a sua base eleitoral cristã-fundamentalista-conservadora-de-direita e
seus preconceitos e aversões a homossexuais. Segundo o jornal "San Francisco
Chronicle", o porta voz do presidente Reagan, Pat Buchnan, chamou a AIDS
literalmente de: "a vingança da natureza contra os gays".”
Acho engraçado, senão
covarde, espalhar ignorâncias do tipo encontradas no blog do Luis Nassif. O
governo Reagan foi responsável pela criação de mais de 20 milhões novos postos
de trabalho para os americanos, estatísticas de matar de inveja qualquer
esquerdopata de carteirinha. Até quem não nasceu na época conhece a famosa
frase dita na frente do muro de Berlim “mr. Gorbachev, terry down these walls”.
Entretanto é raro ver algum “libertário” aplaudindo de pé as bondades reaganianas
como deveria, por questões de princípios.
Essa coisa de culpar
Reagan por uma suposta falta de atitudes com relação à AIDS é uma tentativa de
macular a boa reputação que até hoje ainda ostenta.
Oras, não foi Reagan
que andava pelas ruas de San Francisco pregando sexo livre e com qualquer um
como fazia os que orbitavam a personalidade de Harvey Milk. Não foi Reagan que
baixava as calças de um e empurrava a piroca do outro e gritava “pode meter!”.
A tentativa de culpar
Reagan por qualquer coisa que tenha acontecido contra a “comunidade gay” nos
EUA é tão ridículo que, escrever sobre, é quase como descrever o óbvio.
Mas vou aqui explicar
de como as coisas funcionam dentro das boates gays, pra quem ainda não conhece:
se você entrar hoje no “Club A Loca”, na Rua Frei Caneca, não espere utilizar o
banheiro masculino para dar uma mijada. O banheiro é utilizado como local
improvisado para pegação. As pessoas ficam transando dentro dos cubículos onde
tem as privadas. E não adianta mijar no mictório achando que vai ter sua
privacidade respeitada: o cara do lado vai olhar pro teu pinto.
Se você se considera
liberal, experimente entrar numa boate gay com sua namorada. Um amigo meu me
relatou ter feito isso e disse que toda hora ficavam beliscando a bunda dele e
falavam na cara dura “ai, credo, um hetero aqui”, “larga essa racha e fica
comigo” (racha = mulher).
Acho que peguei a fase
em que vi coisa pior: os darkrooms. Trata-se de uma sala completamente escura em
que os caras entram e tem sexo ali, com gente completamente desconhecida. O
nível de imoralidade é tão baixo que se alguém falar de camisinha vai parecer
padre pregando castidade. É o que relatou um cara que conheci. Fomos juntos uma
vez num lugar e ele teve interesse em entrar. Eu devia ter uns 17 ou 18 anos.
Fiquei bebendo no bar. Quando ele voltou disse ter desistido porque o cara não
queria que ele usasse camisinha. Só lubrificante.
Portanto, existem aqui
duas falácias: a primeira é culpar Ronald Reagan por um problema que ele não
criou. Ele não criou as orgias gays, não criou os darkrooms. De tabela,
aproveitei aqui para condenar também o uso do preservativo: se você é gay, e
está lendo isso, não adianta você levar, nesses lugares sempre vai ter alguém
que vai insistir pra você fazer sem o preservativo.
Sobre este último, eu
particularmente não desacredito a posição da Igreja Católica que recomenda
castidade aos casais homossexuais. Até porque, além da camisinha ter risco de
rasgar, a grande questão dela não é fomentar o sexo a partir de uma suposta
opção segura, mas incentivar a selvageria do sexo e colocar o cidadão que
acredita nesse discurso numa situação em que um dia ele vai pegar a doença.
É por isso que afirmo
com todas as minhas forças, a ABGLT, o Ministério da Saúde e todas essas
organizações e associações supostamente pró-camisinha, são todas anti-gays,
elas querem ver os gays morrendo de AIDS! Comparo estas pessoas com Hitler, da
mesma forma que vejo os darkrooms como uma versão neossocialista dos campos de
extermínio.
Bom, eu não sei até onde vai sua investigação histórica a respeito do modus vivendis gay no passado, mas antes do surgimento dos darkrooms, a maioria trepava em casa, em parques e banheiros públicos - isso quando não faziam "encontros" em bordéis masculinos, tudo sempre muito escondido (já que era um ato criminoso), mas sem essa idéia (única) de "esconder-se dos outros dentro de um ambiente onde isso não era necessário", já que alí somos iguais. Em outras palavras: o gueto dentro do gueto.
ResponderExcluirInteressante também pensar que a própria criação dos darkrooms está associada ao período de maior liberação sexual (a década de 60-70). Eu me pergunto o que levou o mercado gay a criar tais "campos de extermínio" - acho difícil que essa idéia tenha sido motivada pela volúpia, ou mesmo as diretrizes da liberdade sexual daquela época, que buscavam naturalizar a atividade sexual. Ouso dizer que, assim como o exército americano aprendeu táticas de guerra com o movimento hippie (veja o documentário "Crazy Rulers of the World"), também é possível que o aparecimento dos dark rooms tenha sido uma invenção maliciosa, uma forma de brincar com a idéia do proibido em um período de liberação, e que com certeza não partiu da "natureza" homossexual.
Contudo, a despeito da riqueza gráfica do seu texto, não vejo conexão alguma entre essa suposta imoralidade do comportamento gay e o fato de que, não somente o Reagan, mas a maior parte do mundo, foi pega de surpresa com a epidemia da AIDS. E sim - foi preciso décadas para que a AIDS deixasse de ser considerada "praga gay", tornando-se algo como uma doença crônica tratável, muito menos letal do que, por exemplo, a ignorância (essa sim, difícil de tratar).
Para finalizar - é impressão minha ou sinto um self-hatred em alguns artigos desse blog? Nesse, por exemplo, você deixa claro que essas organizações ABGLT querem ver gays morrendo de AIDS - não seria esse o SEU DESEJO? Uma forma de limpar os gays da imoralidade que você tanto condena?
Sugiro que, ao invés de ficar perdendo seu tempo endossando o discurso de gente como Olavo e seus súditos, fosse conversar com quem esteve lá e sobreviveu - aqueles que lutaram pra você ter o direito de não ser invisível. Conheço ativistas gays de mais de 60 anos que adorariam mostrar o quão equivocado você está, descrevendo como era viver numa sociedade onde a simples existência desse blog já o condenaria à cadeia.
Mas enfim. Não existe algo mais fácil do que deixar-se trair pela própria consciência.