quarta-feira, 18 de julho de 2012

O “Truvada”, a AIDS e a lógica. Ou: Um remédio de combate à AIDS que pode induzir uma elevação dos casos de contaminação

Por Reinaldo Azevedo

Os Estados Unidos aprovaram a comercialização de um remédio que ajuda — só ajuda — a prevenir a contaminação pelo vírus da AIDS. Não entendo nada de medicina, é evidente. Mas sei um pouquinho de lógica. Será preciso tomar um cuidado imenso para que não haja um… aumento dos casos de contaminação! Leiam o que informa VEJA Online. Volto em seguida.
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O FDA, órgão do governo americano que controla drogas e alimentos, anunciou nesta segunda-feira a aprovação do Truvada, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences, como primeira pílula para ajudar a prevenir a contração do HIV em grupos de alto risco. O órgão ressalta, porém, que o medicamento é incapaz de evitar a doença sozinho: deve ser usado com outros meios, como a camisinha.

TRUVADA
O Truvada, comercializado desde 2004, é a combinação de outras duas drogas, mais antigas, usadas no combate ao HIV: Emtriva e Viread. Os médicos normalmente receitam a medicação como parte de um coquetel que dificulta a proliferação do vírus, reduzindo as chances de a aids se desenvolver.

A capacidade de prevenção do Truvada foi anunciada pela primeira vez em 2010 como um dos grandes avanços médicos na luta contra a epidemia de aids. Um estudo de três anos descobriu que doses diárias diminuíam o risco de infecção em homens saudáveis em 44%, quando acompanhados por orientação e pelo uso de preservativo.

O Truvada costuma provocar, como efeito colateral, vômitos, diarreia, náuseas e tontura. Há casos também de intoxicação do fígado, perda óssea e alteração da função renal. O remédio já está no mercado para tratar a doença. A aprovação do FDA permite que a empresa Gilead Sciences, fabricante da medicação, venda a droga formalmente nas condições estabelecidas pelo órgão. “O Truvada é para ser utilizado na profilaxia prévia à exposição, em combinação com práticas de sexo seguro, para prevenir as infecções do HIV adquiridas por via sexual em adultos de alto risco. O Truvada é o primeiro remédio aprovado com esta indicação”, afirmou o FDA.

Com a decisão do FDA, médicos estão autorizados a prescrever o Truvada nos Estados Unidos a grupos como prostitutas ou casais em que um dos parceiros é soropositivo. Ricardo Shobbie Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), porém, afirma que, como os estudos mais conclusivos até o momento dizem respeito a homens que fazem sexo com homens, a droga deve inicialmente ser indicada para esse grupo. José Valdez Madruga, infectologista e coordenador de Pesquisa em Novos Medicamentos do Centro de Referência e Tratamento de Aids (CRT), de São Paulo, também afirma que, por enquanto, os estudos com resultados mais fortes analisaram grupos homossexuais.

A posição definitiva veio dois meses após o órgão ter se mostrado favorável a um estudo que indicou que o medicamento pode reduzir de 44% a 73% o risco de contração do HIV em homens homossexuais. Na mesma semana, um comitê do FDA se reuniu e os especialistas se posicionaram a favor do uso do Truvada para esses fins.

O Truvada é encontrado no mercado americano desde 2004 como tratamento para pessoas infectadas com HIV. O medicamento é usado em combinação com outros remédios antirretrovirais. Agora, com a aprovação do FDA, a droga passa a ser recomendada também para pessoas não infectadas que apresentam alto risco de serem contaminadas pelo vírus HIV.

Apesar de comemorada por grande parte da comunidade científica, a nova indicação para o Truvada foi rejeitada por alguns grupos de prevenção a aids, como a Aids Healthcare Foundation, dos Estados Unidos. De acordo com a organização, o uso contínuo do medicamento pode induzir a uma falsa sensação de segurança. Isso levaria, segundo a organização, a um menor uso de métodos preventivos mais eficazes, como a camisinha.

Brasil
Em maio, logo após o primeiro sinal verde do FDA em relação ao uso do Truvada para a prevenção do HIV, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou o medicamento no Brasil. A droga, no entanto, não passou a ser utilizada automaticamente no país. De acordo com o Ministério da Saúde, a inclusão do medicamento no coquetel distribuído no país foi analisada há dois anos e não foi encontrada a necessidade na troca das drogas.

Voltei
O número de novos casos de AIDS mesmo em países ricos e em grupos informados, que conhecem muito bem as formas de contágio, ainda é elevadíssimo. AIDS não é gripe. Não se apanha sem querer nos trens de metrô ou nas salas de aula. Exceção feita aos casos de contaminação em transfusões ou em decorrência da infidelidade de um dos parceiros (geralmente o homem) no casamento, fato ignorado pelo outro, a contaminação se dá em razão de uma escolha desastrada. Não! A pessoa não escolhe a doença, mas o comportamento temerário, ciente de que pode se dar mal. Mesmo assim, decide correr o risco.

Em países africanos, onde o flagelo da doença se mistura à pobreza, ao atraso, a cultuaras que esmagam as mulheres etc, a “vontade” é um fator de menor importância. Mas não é assim nos países mais desenvolvidos — incluindo o Brasil. As pessoas que trabalham com saúde pública por aqui, e eu conheço algumas, sabem que a AIDS é majoritariamente, sim, uma doença associada ao sexo promíscuo. Tirem da palavra o conteúdo de censura moral. O ponto é outro: chamo de “promíscua” a prática sexual com vários parceiros, sem restrição ou proteção.

Curiosamente, e os médicos sabem que isto é verdade (evitam dizê-lo para não contrariar grupos militantes), o avanço dos chamados coquetéis anti-AIDS, que vão conferindo à doença a característica de um mal crônico, administrável — não mais de doença letal — acabou provocando uma estagnação na taxa de contaminação, que parou de cair. Em alguns grupos, como o de homossexuais masculinos jovens, subiu. Vale dizer: o coquetel passou a ser visto, tolamente, como uma espécie de garantia. E não custa lembrar: a AIDS ainda mata.

Se o tal Truvada contribui, em si, para dificultar a contaminação, que seja posto à disposição da população. Se passar a ser usado como garantia, os desdobramentos podem ser contraproducentes. Por quê? Está claro que ele não impede a contaminação. Se provocar uma grande elevação do número de pessoas que se exporão ao risco, o resultado pode ser desastroso.

Uganda é o país africano mais bem-sucedido no combate à AIDS. Também por lá existe a ênfase no uso da camisinha. Mas é apenas a terceira prioridade: as duas primeiras são a defesa da fidelidade no casamento e, vejam que coisa!, o incentivo à virgindade. Não estou dizendo que seja um exemplo a ser seguido — até porque há campanhas que são mais efetivas em determinadas culturas do que em outras. Chamo a atenção para um aspecto óbvio, sempre negligenciado por grupos militantes, especialmente os de homossexuais, sob o silêncio cúmplice da área médica: até que não se tenha uma vacina contra a doença ou não se descubra a cura, o sexo seguro — e, por óbvio, homossexuais também podem praticá-lo — ainda é o melhor remédio. E, meus caros, a “camisinha” da escolha certa é a única 100% segura.

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