A chamada “liberdade” nos Estados Unidos nos permitia uma
visão mais aproximada das consequências dessa idolatria radical. Na primavera
de 1983, choveram críticas contra o governo Reagan por causa de sua política em
relação a aids. Embora apenas 1500 casos tivessem sido diagnosticados, a taxa
de contaminação alcançava níveis epidemiológicos, registrando aumentos de 100%
a cada seis meses. Em decorrência de nosso processo de questionamento, Peter e
eu desenvolvemos uma espécie de aversão às denúncias apocalípticas da esquerda.
Os ativistas acusavam as autoridades federais de deliberadamente negar verbas
para a luta contra a aids, e assim “assassinar” os homossexuais. Era uma
acusação tão absurda quanto àquelas feitas contra Lyndon Johnson durante a
Guerra do Vietnã: “Ei, ei, LBJ – quantas crianças você matou hoje?”. Imitando
os protestos da década de 1960, os radicais homossexuais organizaram um
protesto em frente ao Ministério da Saúde em Washington. Um dos manifestantes,
portando uma máscara com o rosto de Reagan e vestindo um roupão preto,
carregava um cartaz com a frase “Aids é Genocídio”.
(...) Em relação à aids, a própria postura de culpa parecia
suspeita, quase como uma tentativa de evitar as responsabilidades da vida
adulta. A burocracia fez com que os órgãos federais levassem muito tempo para
lidar com esses problemas, se é que um dia o fizeram de verdade. A aids ainda
era uma doença desconhecida e os 26 milhões de dólares já gastos eram uma
quantia altíssima. O superintendente do Serviço de Saúde Pública declarou que a
doença era a “prioridade número 1”. Ignorando tais esforços, os manifestantes
dirigiam-se ao presidente como se ele fosse o “Grande Pai Branco” da nação,
como se todas as crises do país pudessem ser resolvidas com um estalar de dedos
seu. Todavia, se alguém poderia conhecer uma solução para o problema da aids,
esse alguém era a própria comunidade atingida pela doença. Mesmo sem ter
conseguido isolar o vírus causador, a opinião médica era unânime: a aids era
uma doença sexualmente transmissível e o comportamento promíscuo de seus
portadores foi o responsável por transformá-la em epidemia. As primeiras
pesquisas com doentes revelaram que cada indivíduo no grupo teve mais de mil
parceiros sexuais por ano, cerca de cem vezes mais do que a média de contatos
de um homem heterossexual solteiro. Era essa promiscuidade agressiva que
explicava a rapidez com que a doença avançava dentro da comunidade gay.
A militância radical era uma das fontes de tal comportamento
libertino. O movimento gay foi lançado durante o auge da revolução sexual. Para
os seus integrantes, libertar-se significava romper as amarras da “repressão
sexual”. Para os heterossexuais, a revolução sexual terminou nos anos 1970,
com o vírus da herpes. O herpes não era uma doença fatal, como a aids, mas os
seus sintomas mostraram-se graves o suficiente para convencer o público que não
participava da luta ideológica a prestar mais atenção aos problemas de higiene
causados pelo sexo promíscuo. As chamadas casas de sexo, onde os frequentadores
podiam manter relações sexuais livremente, foram fechadas e os parâmetros
morais em relação à sexualidade tornaram-se mais conservadores. Mas essa
sobriedade não alcançou o âmbito da revolução gay. Para os radicais homossexuais,
era impossível abrir mão do sexo promíscuo, mesmo por razões de saúde e
higiene, uma vez que ele era um elemento fundamental dentro da ideia de liberdade. Dentre os gays, certas
doenças venéreas muito mais sérias do que o herpes já estavam se proliferando.
Pouco antes do surgimento dos primeiros casos de aids, Edmund White, autor de Os prazeres do sexo homossexual,
manifestou-se diante de uma plateia: “Na guerra contra uma sociedade que se
mostra inimiga do sexo, os gays deveriam fazer de suas doenças sexualmente
transmissíveis uma bandeira para simbolizar a sua coragem”. Um jovem ativista
gay chamado Michael Callen, que mais tarde fundaria a organização “Pessoas com
Aids”, estava presente na plateia. Naquele momento, pensou: “Toda vez que eu
pego uma doença venérea, é como se eu estivesse dando a minha contribuição para
a revolução sexual”.
No fim dos anos 1970, uma série de doenças atingia a
comunidade gay, incluindo a gonorreia anal, a sífilis, o citomegalovírus e a
hepatite B. Várias dessas epidemias estavam ligadas ao câncer e a problemas no
sistema imunológico. Além disso, elas se espalharam de forma tão ampla que o
atendimento aos doentes consumia mais de um milhão de dólares dos cofres
públicos por dia. Mesmo assim, os órgãos de saúde se recusavam a intervir e a
aplicar medidas de prevenção. Quando entrevistei Don Francis, funcionário do
alto escalão do Centro de Controle Epidemiológico, ele me explicou as razões
para esse tipo de política sanitária: “Não temos a intenção de interferir no
estilo de vida alternativo dessas pessoas”. Isso demonstrava quanto as
tentativas por parte dos revolucionários gays de demarcar os seus espaços
independentes foram bem-sucedidas. Mesmo com a proliferação das epidemias, as
boates gays e as “saunas”, que funcionavam sob licença pública, mantiveram as
suas portas acintosamente abertas e continuaram lucrando como nunca.
Depois da descoberta dos primeiros casos de aids, as casas
de sexo não deixaram de operar. Quando encontrou os seus pacientes homossexuais
se divertindo em uma casa de banhos, um grupo de médicos decidiu procurar o
jornal San Francisco Chronicle e
denunciar o ocorrido, na esperança de que, diante de uma notícia chocante como
essa, a comunidade gay e as autoridades de saúde pública pudessem tomar alguma
atitude. Porém, os seus esforços não renderam os frutos esperados. Acusados de
“homofobia gay” pelos militantes da causa homossexual os médicos preferiram
calar-se. Enquanto isso, os ativistas continuaram a culpar Reagan e a criticar
a falta de verbas federais para combater o aumento do número de casos de
contaminação e de morte entre os já infectados, “exigindo” dos médicos uma cura
imediata para a doença.
Peter e eu decidimos analisar essa história. O surto de AIDS
se concentrava quase que exclusivamente dentro das comunidades gays de três
cidades americanas – Nova York, Los Angeles e São Francisco, sendo que esta
última registrava o maior número de casos. A área conhecida como distrito de
Castro, em São Francisco, era a base da mais populosa e politicamente engajada
comunidade gay do país. A influência política dos homossexuais de São Francisco
era tão abrangente que nenhum prefeito conseguiu se eleger sem seu apoio.
Decidimos retratar a situação da cidade como um caso emblemático. Para iniciar
a pesquisa, como era de costume, entrei em contato com outros jornalistas que
também estavam cobrindo o caso.
Dentre eles, o que mais se destacava era Randy
Shilts, repórter do San Francisco Chronicle que representava a voz da comunidade
gay no jornal. Liguei para Shilts e marcamos um almoço. Simpático e comunicativo, Shilts demonstrava uma enorme
curiosidade em relação a tudo o que acontecia dentro daquele universo. Ele era
autor de O prefeito da rua Castro,
biografia de Harvey Milk, primeiro homossexual eleito em São Francisco. (...)
Não havia ninguém mais indicado para falar sobre o assunto do que ele. Shilts
sabia do trabalho que Peter e eu estávamos desenvolvendo, pelo qual manifestava
um sincero respeito. Enquanto Shilts me punha a par da situação atual da aids, pude
ver que nossos pressentimentos estavam certos. Além de tudo, os aspectos
políticos da história eram muito mais significantes e muito mais preocupantes
do que tínhamos imaginado.
Shilts revelou que o clima de intimidação que pairava sobre
a comunidade gay era tão pesado que ninguém tinha coragem de abrir a boca.
Aqueles médicos que tentaram, em vão, alertar o público para os perigos
escondidos em saunas e outros estabelecimentos do tipo eram apenas a ponta do
iceberg. Estudos realizados por pesquisadores universitários mostraram que um
em cada 222 homens homossexuais no distrito de Castro já era portador da
doença. “Se um cara fizer sexo com mais outros dez numa noite, o que não é rato
de acontecer”, disse Shilts, “o risco de infecção passa a ser de 1 em 33.” Se
essa for uma prática habitual, e geralmente é, a possibilidade de contaminação
pela aids é mais do que certa. De acordo com Shilts, eram os próprios líderes
gays que omitiam os resultados das pesquisas e o fato de que a aids era uma
doença sexualmente transmissível.
Era algo difícil de acreditar, mas quando fui confirmar a
história de Shilts, esta mostrou-se verdadeira. A Associação Democrática Gay
Stonewall, uma das potencias politicas na comunidade, resumiu a visão
politicamente correta predominante entre os ativistas no seguinte slogan: “O
sexo não causa aids – o que causa aids é um vírus”. O grupo acreditava que
associar a doença com o sexo promíscuo e também com o sexo homossexual (95% dos
casos em São Francisco eram entre homens homossexuais) poderia estigmatizar o
“estilo de vida gay” e criar uma revolta política. Os ativistas tinham poder de
fogo suficiente para evitar que as informações sobre os meios de informação da
aids fossem divulgados pelos órgãos de saúde aos indivíduos com comportamento
de risco. Não havia nenhum material informativo nas clínicas especializadas no
tratamento de doenças venéreas da cidade alertando para a natureza sexual da
doença, explicando que o causador da aids era um vírus presente no sangue e
transmitido pelo sêmen, e que o sexo anal era o responsável pela maioria das
contaminações. Os folhetos sobre aids diziam que a origem da doença ainda era
desconhecida, e recomendavam dormir mais e se exercitar mais como formas de
prevenção.
Uma figura central no desenvolvimento da política em relação
à aids mantida pela cidade São Francisco, a quem entrevistei por sugestão de
Shilts, era a coordenadora dos programas municipais de saúde dirigidos aos
homossexuais. Negra e lésbica, Pat Norman não possuía formação na área médica: era
uma ativista política que aprendeu, provavelmente na prática, a lidar com as
questões de saúde. Pat ocupava o cargo de diretora do Departamento de Saúde do
Homossexual na Secretaria Municipal de Saúde. Alguns meses antes, a Comissão
Coordenadora do Atendimento ao Homossexual, que ela presidia, havia rejeitado
as propostas para implantar a triagem de doadores de sangue na cidade, depois
que vários hemofílicos foram contaminados durante as transfusões. A comissão
alegou que o projeto era uma tentativa de “reimplantar a lei de miscigenação
que fazia distinção entre o sangue branco e o sangue negro”, e baseado no
“mesmo conceito que durante a Segunda Guerra Mundial levou o governo a ordenar
a prisão de todos os cidadãos nipo-americanos, residentes na metade ocidental
do país, por meio de espionagem”. No momento em que abordei a necessidade de
divulgação de mais informações sobre a transmissão da aids por via sexual ao
grande público, Norman evitou dar respostas diretas, mostrando-se bastante
agressiva, e a entrevista acabou ali.
(...)No fim do primeiro almoço, Shilts comentou “David, se você quer tanto
entender o sexo homossexual, é simples: é menino sem menina”. Não havia outra
instituição capaz de ilustrar melhor esse fato do que as saunas, descritas por
um ativista como sendo “os símbolos da liberação gay”. As “casas de banho” eram
uma indústria que movimentavam mais de 100 milhões de dólares por ano em todo o
país. Alguns estudos mostraram que as saunas eram frequentadas por quase 70% da
população gay, e que a média de relações sexuais por cliente era de três por
noite. Consequentemente, a possibilidade de contrair uma doença venérea era de
33%. Ainda um pouco hesitante, disse a Peter que eu iria até lá para conferir.
(...) As saunas já eram fonte de amargos conflitos entre os
líderes gays. Tive a oportunidade de entrevistar um deles, Bill Kraus, que mais
tarde morreria de aids, assim como o próprio Shilts. Kraus era presidente da
Associação Democrática Gay Harvey Milk e estava convencido de que as saunas representavam
uma ameaça à saúde da comunidade. No seu íntimo, Kraus achava que elas deveriam
ser fechadas, mas sabia que se tratava de uma deia politicamente inviável e,
por isso, tinha medo de expressá-la em público. Sua preocupação imediata era
obrigar a prefeitura a afixar avisos nas casas de banho alertando para o risco
de transmissão de aids por meio do sexo. Essa era uma questão urgente, pois a
Parada do Orgulho Gay estava marcada para acontecer em junho, ou seja, a menos
de um mês. Nessa época, dezena de milhares de homossexuais de todo o país,
cidadãos acima de qualquer suspeita, reuniam-se em São Francisco para se banhar
no seu oceano de “liberdade” e doença. Numa reunião entre os proprietários das
casas de banho e os líderes gays, a proposta de Kraus foi rejeitada e ele se
tornou alvo de críticas e agressões pessoais. Kraus foi chamado de “fascista
sexual”, de “traidor da comunidade”, de alguém que quer “sufocar a
sexualidade”. Segundo a explicação dada por um ativistas, a lógica dos radicais
funcionava da seguinte maneira: “As mesmas instituições que lutaram contra a
repressão sexual [as casas de banho] estão sendo criticadas com a desculpa de
estratégia médica”.
Ao falar comigo, Kraus estava bastante nervoso e exigiu que
toda citação literal de seu depoimento fosse submetida à sua aprovação antes de
ser incluída no artigo. Mas ele também ficava agradecido por estarmos
escrevendo uma reportagem sobre o assunto, uma vez que os membros da comunidade
se sentiam muito intimidados para falar publicamente. Conversando com Kraus e
outros ativistas como ele, lembrei-me das minhas experiências durante a era
McCarthy, quando ainda era criança. Os medos que as pessoas sentiam eram os
mesmos: medo da difamação, do isolamento político, medo de perder os amigos, de
ser expulso da comunidade. Foram esses temores que
levaram Shilts a nos entregar uma matéria que era sua por direito.
Por (mais uma) sugestão de Shilts, entrevistei também uma
enfermeira lésbica chamada Catherine Cusic, integrante da Associação Harvey
Milk. Por ser especialista no tratamento de pacientes com aids, Catherine viu
doentes morrendo nos braços de seus parceiros e consolou as famílias que vinham
dar o último adeus a seus filhos. Seu depoimento foi arrepiante: “Tem gente na
comunidade”, disse ela, “que não quer que os outros saibam da verdade. Acham
que isso vai prejudicar os negócios, vai afetar a imagem do homossexual.
Centenas, talvez milhares, vão morrer por causa desse tipo de atitude. É
praticamente um assassinato”.
A opinião dos líderes gays tinha um peso muito grande. O
superintendente de saúde pública de São Francisco, dr. Mervyn Silverman,
afirmou que não poderia implantar nenhuma política de saúde em relação à aids
sem a prévia aprovação dos gays. Na minha opinião, com esse gesto, o médico
estava abdicando de sua responsabilidade enquanto profissional e enquanto
autoridade municipal. Não obstante, o dr. Silverman defendia a sua posição com
unhas e dentes. Ele não era capaz nem mesmo de questionar em público a visão,
forjada politicamente, de que não havia certeza em relação à natureza sexual da
transmissão da aids. “Se o senhor diz que não se sabe ao certo como a aids é
contraída”, perguntei-lhe, “como pode afirmar com tanta convicção que não há
risco de transmissão casual?” A impossibilidade de a doença ser transmitida
casualmente a heterossexuais (através da saliva, por exemplo) foi largamente
defendida pelos órgãos de saúde em várias de suas declarações. Com essa
atitude, buscavam tranqüilizar o público freqüentador dos diversos restaurantes
e outros estabelecimentos em São Francisco de propriedade de homossexuais. “Ah”,
Silverman respondeu sem hesitar, “os gays são mais vulneráveis que os
heterossexuais em alguns aspectos. O sistema imunológico de um homem
homossexual normal já é debilitado por natureza”. “E como o senhor ficou
sabendo disso?”, perguntei, incrédulo. Ele, então explicou como as células T
são contadas, como a hepatite B enfraquece o sistema imunológico e como as
outras tantas doenças sexualmente transmissíveis, que as autoridades de saúde
como ele deixaram correr livremente dentro da comunidade gay, fazem com que os
homossexuais masculinos fiquem mais expostos à infecções.
Fiquei chocado diante dessas afirmações. Tínhamos aqui um
grupo de pessoas correndo sério risco de contrair uma doença venérea, e a maior
autoridade de saúde pública do município – completamente ciente dos perigos –
recusava-se a fechar as saunas e outros pontos de encontro sexual, ou a afixar
avisos nesses locais, ou mesmo a falar à comunidade gay e ao grande público
sobre a natureza da ameaça que enfrentava. Silverman acabou deixando o
Departamento de Saúde Pública para tornar-se presidente da Fundação Nacional
Contra a Aids, aparecendo em eventos de gala beneficentes ao lado de
celebridades como Elizabeth Taylor, arrecadando milhões de dólares em donativos
para cuidar dos doentes terminais que as suas políticas ajudaram a criar.
O artigo que escrevemos foi publicado como a matéria de capa
da edição de julho de 1983 da revista California,
sob o título de “Whitewash” [Pá de cal]. A reportagem abria com a seguinte
frase: “Enquanto o número de vítimas da aids duplica a cada seis meses, os
líderes gays da Califórnia omitem informações fundamentais sobre as formas de
contágio dessa doença fatal, colocando milhares de vida em risco [...]”
Foram
realizadas diversas manifestações na porta da redação da revista protestando
contra o conteúdo “homofóbico” da reportagem. Houve também críticas da parte de
Pat Norman e de outros líderes homossexuais. Seguindo essa mesma linha, a Newsweek acusou o nosso artigo de “sensacionalismo”.
De modo geral, a mídia tratou de esquecer logo o assunto. As dimensões
políticas da história da AIDS só seriam conhecidas mais a fundo quatro anos
depois, quando Shilts descreveu esses acontecimentos no seu livro intitulado O prazer com risco de vida. Outro jovem
escritor, Michel Fumento, inspirou-se na nossa reportagem para iniciar uma
investigação das políticas por trás da epidemia. O resultado de sua pesquisa
foi mais tarde publicado sob o título de O
mito da aids heterossexual.
Por causa do nosso artigo, fui convidado a participar de
vários programas de entrevistas para debater com ativistas gays. Nas minhas
aparições, sempre reconhecia a pertinência das preocupações daquela comunidade.
Meu objetivo era chegar até os jovens que, sem saber, estavam no caminho da
doença. Eu sabia que, se eles me vissem como alguém alheio aos seus interesses,
jamais ouviriam o que eu tinha a dizer. Num desses programas, fiquei frente a
frente com Randy Stallings, presidente da Organização Alice B. Toklas, terceira
associação gay mais importante ligada ao Partido Democrata de São Francisco.
Comecei criticando o tratamento aos homossexuais americanos, lembrando que até
há pouco tempo a homossexualidade era crime, e afirmando que a epidemia era uma
tragédia humana. “Se você é gay”, disse eu, “e não manteve um relacionamento
monogâmico durante os últimos dez anos [o período de latência presumido do vírus],
você pode ser portador de uma doença fatal”. Stallings veio para cima de mim. “Viram
só? Ele falou monogâmico! Isso é
preconceito. É homofobia!” Eu não me deixei intimidar. “Não estamos discutindo
filosofia”, retruquei. “Esta é uma questão de vida ou morte”. Mas Stallings
insistia. Ele negou que a doença fosse sexualmente transmissível e afirmou que
as autoridades não agiram com negligência quando se recusaram a afixar avisos
sobre a doença” (...).
(...) Mais uma vez, tentei deixar claro que eu não era
contra a homossexualidade. Eu compreendia que aquela era uma comunidade
perseguida e apoiava as suas reivindicações por respeito e por direitos iguais.
Mas as políticas de saúde pública e os conceitos morais tradicionais não podiam
ser simplesmente encarados como instrumentos “sexistas” cujo propósito era
oprimir os gays. Embora a liderança tentasse negar, o fato era que a aids era
uma doença sexualmente transmissível e que a promiscuidade era mesmo perigosa –
especialmente para os homens homossexuais. As medidas de saúde pública
convencionais aplicadas ao combate a epidemias deveriam ser utilizadas contra a
doença. (...) Não era uma questão política, era uma questão de saúde. Tentar
adequar as medidas de saúde pública a certos preconceitos políticos só poderia
resultar em sérios prejuízos. O tempo estava passando. Logo a doença se
espalharia de tal maneira que essas medida não mais conseguiriam deter o seu
avanço. Era hora de pôr de lado os argumentos ideológicos que dominavam o
debate e buscar uma solução prática.
No momento dedicado às perguntas, os ânimos da platéia começaram
a se exaltar. Um dos participantes se levantou e, com a voz esganiçada,
ameaçou: “Sinto-me na obrigação de denunciar o senhor para a polícia”. Em
seguida, pôs-se a relatar todas as dificuldades que enfrentou na vida devido à
sua opção sexual e todas as perseguições que sofreu por parte de gente como eu.
Outros participantes engrossaram o coro. De repente, deixei de ser uma pessoa e
me tornei um símbolo, alvo o terror e da ira coletiva. Ninguém ouvia o que eu
falava. Algumas vozes gritavam xingamentos como “nazista” e “homofóbico”,
aumentando ainda mais a histeria generalizada, até que um homem bradou: “Tenho
vontade de te matar!”.
Ninguém se manifestou em minha defesa, nem mesmo para
lembrar que eu merecia um tratamento um pouco mais educado por ser convidado e
por ser minoria. Nada disso aconteceu. Só recebi demonstrações de raiva de todo
o grupo. O clima esta tão tenso que, assim que se declarou o fim do evento, a platéia
em peso precipitou-se em direção à mesa onde estavam os palestrantes. Eu já me
preparava para apanhar. Felizmente, não houve nenhum tipo de violência física
contra mim. Em vez disso, fui abordado por um homem franzino e grisalho que se
aproximou de mi e, quase num sussurro, falou-me: “Tudo isso que você disse está
certo. Não desista”.
Esse homem era Larry Littlejohn, o primeiro xerife
homossexual de São Francisco (...). Ao ouvir a sua história, lembrei-me da
transformação que o movimento dos direitos civis sofreu na década de 1960,
quando a mensagem integracionista de Martin Luther King foi substituída pelo
separatismo radical de Malcolm X e pela onda do Black Power. Assim como Luther
King, Littlejohn e seus companheiros de militância buscavam a integração dos
homossexuais na grande cultura americana, exigindo respeito e lutando pelo
cumprimento dos seus direitos, como todos os outros cidadãos. Porém, no fim dos
anos 1960, essa ideia foi suplantada pelo conceito radical de “liberdade”.
Hoje, o objetivo não era mais a inclusão social, mas a demarcação de uma área
onde a “força” e o “estilo de vida” gays predominassem sobre a ordem “heterossexista”.
A moral e as instituições tradicionais, incluindo até mesmo as medidas de saúde
pública, como mais tarde se descobriu, foram rejeitadas em nome da cultura
revolucionária. Littlejohn passou a crer que os responsáveis pela destruição de
sua comunidade eram exatamente essa cultura e as atitudes de seus integrantes.
Em 1987, quatro anos depois da publicação de nossa
reportagem, foi organizada uma marcha gay em Washington nos moldes da famosa
manifestação liderada por Luther King, em 1963. A passeata, que contou com a
presença de 200 mil pessoas, serviu apenas para reforçar o discurso da
liderança gay de que a aids não representava nenhuma ameaça para a comunidade.
Para completar, faziam questão de entoar o slogan “Fora Reagan! Vida a sodomia”,
como se Ronald Reagan fosse o culpado pela existência da aids e o sexo anal não
fosse um dos principais meios de contágio da doença.
Pela primeira vez na vida, Peter e eu nos víamos do lado “conservador”
de um debate político. O caminho que trilhamos para chegar até aqui não era,
por assim dizer, “político”. A divulgação dos conceitos de higiene pessoal não
tinha a mínima pretensão de “oprimir” a comunidade ameaçada pela aids, como
afirmavam os radicais. Por outro lado, assumir a responsabilidade de cuidar do
próprio corpo era um dos princípios básicos da ética. Era um hábito que
tentávamos cultivar em nossos filhos e em nós mesmos. Ronald Reagan não era o
responsável pela epidemia – era um fato mais do que evidente. Porém, quando nos
recusamos a apontar o dedo para o presidente, a esquerda política viu o nosso
gesto como uma tentativa de “pôr a culpa nas vítimas”. Foi, então, que
percebemos que, querendo ou não, havíamos passado para o outro lado.
As políticas por trás da crise da aids apenas confirmam as
conclusões que nós já havíamos chegado. Com o passar dos anos, as tradições
morais das quais tanto desdenhamos durante a nossa militância na esquerda
tornaram-se, aos nossos olhos, menos arbitrárias e mais aceitáveis. Passamos a
vê-las não mais como intrincados conceitos sociais que a elite dominante impôs,
mas como ensinamentos empíricos que o tempo tratou de preservar e transmitir na
forma de sabedoria popular. A monogamia já não era mais um preconceito cego,
como aprendi a duras penas e como Randy Stallings afirmava. Era, na verdade,
uma atitude prudente, uma regra de comportamento que a humanidade vinha
tentando nos ensinar ao longo de séculos de sofrimento, de erros e acertos.
Passar a vida culpando os outros – a “sociedade” – por tudo o que acontece
conosco acaba nos privando da oportunidade de aprender com as nossas experiências
e de mudar o nosso próprio destino.
Extraído do livro “O Filho Radical — A Odisseia de Uma Geração”, de David Horowitz, publicado pela editora Peixoto Neto
Olá!
ResponderExcluirSeu blog foi abandonado??
Ainda assim quero elogiars e convidar voce a vir:
www.queminteressa.blogspot.com
Ate breve
Ué, o blog acabou?
ResponderExcluir2/Conspiração judaica tupiniquim contra os negros afrobrasileiros
ResponderExcluirA GLOBO BULLIYING NEGLIGENTE PERVERSO da Globo. Humilhante absurdo e desumano que nem ADOLF HITLER fez aos judeus mas os judeu sionistas da TV GLOBO faz para a população negra afro-descendente brasileira isto ocorre em todo lugar do Brasil para nós não tem graça, esta desgraça de Humor racista criminoso, que humilha crianças é desumano para qualquer sexo, cor, raça, religião, nacionalidade etc. o pior de tudo esta degradação racista constrangedora cruel é patrocinada e apoiada por o Sr Ali KAMEL fascista sionista (marido da judia Patrícia Kogut jornalista do GLOBO que liderou dezenas de judeus artistas intelectuais e empresários dos 113 nomes(Manifesto Contra as contra raciais) defendida pela radical advogada Procuradora judia Roberta Kaufmann do DEM e PSDB e o Senador Demóstenes Torres que foi cassado por corrupção)TV Globo esta mesma que fez anuncio constante do programa (27ª C.E. arrecada mais de R$ 10,milhões reais de CENTARROS para esmola da farsa e iludir enganando escondendo a divida ao BNDES de mais de 3 bilhões dólares dinheiro publico do Brasil ) que tem com o título ‘A Esperança é o que nos Move’, show do “Criança Esperança”de 2012 celebrará a formação da identidade brasileira a partir da mistura de diferentes etnias) e comete o Genocídio racista imoral contra a maior parte do povo brasileiro é lamentável que os judeus se divirtam com humor e debochem do verdadeiro holocausto afro-indigena brasileiro o Judeu Sergio Groisman em seu Programa Altas Horas e assim no Programa Encontro com a judia Fátima Bernardes riem e se divertem.(A atriz judia Samantha Schmütz em papel de criança um estereótipo desleal e cruel se amedronta diante aquela mulher extremamente feia) para nós negros afros brasileiros a Rede GLOBO promove incentiva preconceitos raciais que humilha e choca o povo brasileiro.Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 – REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil - quilombonnq@bol.com.br
2/Conspiração judaica tupiniquim contra os negros afrobrasileiros
ResponderExcluirA GLOBO BULLIYING NEGLIGENTE PERVERSO da Globo. Humilhante absurdo e desumano que nem ADOLF HITLER fez aos judeus mas os judeu sionistas da TV GLOBO faz para a população negra afro-descendente brasileira isto ocorre em todo lugar do Brasil para nós não tem graça, esta desgraça de Humor racista criminoso, que humilha crianças é desumano para qualquer sexo, cor, raça, religião, nacionalidade etc. o pior de tudo esta degradação racista constrangedora cruel é patrocinada e apoiada por o Sr Ali KAMEL fascista sionista (marido da judia Patrícia Kogut jornalista do GLOBO que liderou dezenas de judeus artistas intelectuais e empresários dos 113 nomes(Manifesto Contra as contra raciais) defendida pela radical advogada Procuradora judia Roberta Kaufmann do DEM e PSDB e o Senador Demóstenes Torres que foi cassado por corrupção)TV Globo esta mesma que fez anuncio constante do programa (27ª C.E. arrecada mais de R$ 10,milhões reais de CENTARROS para esmola da farsa e iludir enganando escondendo a divida ao BNDES de mais de 3 bilhões dólares dinheiro publico do Brasil ) que tem com o título ‘A Esperança é o que nos Move’, show do “Criança Esperança”de 2012 celebrará a formação da identidade brasileira a partir da mistura de diferentes etnias) e comete o Genocídio racista imoral contra a maior parte do povo brasileiro é lamentável que os judeus se divirtam com humor e debochem do verdadeiro holocausto afro-indigena brasileiro o Judeu Sergio Groisman em seu Programa Altas Horas e assim no Programa Encontro com a judia Fátima Bernardes riem e se divertem.(A atriz judia Samantha Schmütz em papel de criança um estereótipo desleal e cruel se amedronta diante aquela mulher extremamente feia) para nós negros afros brasileiros a Rede GLOBO promove incentiva preconceitos raciais que humilha e choca o povo brasileiro.Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 – REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil - quilombonnq@bol.com.br
Blog encantador,gostei do que vi e li,e desde já lhe dou os parabéns, também agradeço por partilhar o seu saber, se achar que merece a pena visitar o Peregrino E Servo,
ResponderExcluirtambém se desejar faça parte dos meus amigos virtuais faça-o
de maneira a que possa encontrar o seu blog,para que possa seguir também o seu blog.
Deixo os meus cumprimentos, e muita paz.
Sou António Batalha.
O que que vcs, esperavam dos descendentes do povo que deu origem ao dito:"santo de casa não faz milagre"
ResponderExcluir